domingo, 23 de agosto de 2009

CONTINUANDO A SAGA DOS 100 ANOS...

E durante estes 15 anos minha mãe viveu com a dura responsabilidade de dar conta das angústias e tormentos de sua mãe.Embora no início eu ainda fosse muito pequena, tinha apenas 05 anos de idade, de certa forma eu captei a peso que isso trouxe para nossas vidas, inclusive para a minha própria vida. Não é fácil para uma criança de tão pouca idade fazer parte de um universo tão denso como é conviver com a presença de uma avó praticando toda espécie de loucuras ao seu redor e roubando um espaço de saúde e atenções que seriam seus em circunstâncias normais.
Enquanto isso, minha mãe fazia o possível para levar uma vida o mais dentro da normalidade possível. Mantinha algumas amizades, que nunca foram muitas, mas eram constantes e verdadeiras. Logo que minha avó foi para nossa casa, minha mãe buscou na fazenda que era dela, uma menina para brincar comigo e a trouxe para nossa casa. Tínhamos mais ou menos a mesma idade, porém não havia compatibilidade na nossa convivência. Em vez de brincar, brigávamos o tempo todo. Ela mexia nas minhas coisas e eu não admitia isso, o que tornava a convivência uma eterna luta. Minha mãe a defendia muito, alegando que ela não tinha mãe, e eu achava que ela estava usurpando o meu lugar de sua filha, o que tornava a situação cada vez menos amigável. até que eu tomei a decisão de que ela não deveria mais falar comigo, não participar das minhas brincadeiras e nem pegar em nenhum objeto meu. De certa forma, passei a viver mais em paz, porém ela estava sempre quebrando as regras do acordo e isso gerava verdadeiras batalhas domésticas. de qualquer forma , Maria ficou em nossa casa até a vida adulta , quando saiu para se casar. Como eu me casei antes, nesta época já morava em Salvador.Hoje, as brigas de infância viraram folclore. Eu mesma gosto muito de brincar com as histórias. de certa forma, acho que é um meio de exorcizar o que possa ter restado de mágoa de todas estes acontecimentos.
Mesmo vivendo toda a trabalheira com minha avó , minha mãe não se furtava de outros deveres. Quando eu tinha uns 07 anos, ela recebeu em nossa casa uma afilhada de 1 ano e 6 meses para criar, pois a mãe da menina tinha muitos filhos e estava em situação de muitas dificuldades. Assim, Socorro passou a fazer parte de nossas vidas. Acho que quem teve todos os trabalhos de mãe adotiva com ela foi a . A Bá, se chama Sebastiana e mora com minha mãe desde que ela casou. Portanto, esteve presente na infância tanto minha como na de meus irmãos, enfim, esteve presente em todos os momentos de nossas vidas. Aliás, esteve sempre presente na vida de todos nós, como alguém da própria família, solidária, carinhosa e amiga. Portanto, como ela não casou e não teve filhos, acredito que encontrou na Socorro a oportunidade de exercer a maternidade em tempo integral. Socorro ficou em nossa casa até a vida adulta. Casou, teve filhos, separou do marido e hoje, está novamente na casa de minha mãe, cuidando dela com um carinho muito grande. É ela que cuida da cozinha e de certa forma, administra a casa.
Tenho a sensação de que eu criei um mundo à parte, onde aconteciam minhas vivências infantis. Lembro de mim sempre muito só, com minhas fantasias, minhas conversas com minha imagem refletida no espelho da penteadeira de minha mãe ou no quintal, no alto de alguma árvore vivendo em voz alta alguma história que minha imaginação criava. Vivia histórias fantásticas, bem diferentes da minha vida real e ali construía um mundo mágico e encantado com que tentava suprir o que me faltava na realidade...De certa forma, acho que funcionou bem, pois apesar de eu ter consciência de manter em mim um certo egocentrismo, também aprendi a conviver e a gostar da minha companhia, a conhecer de perto o meu íntimo e a ter comigo mesma uma relação que supõe a existência de duas pessoas: a que age e a que observa. E assim tenho mais clareza de meus atos... ao mesmo tempo que exerço censura e crítica sobre o que penso, desejo e pratico... me aceito com generosidade, amor e compreensão pelas falhas e exageros que cometo ou maluquices que me passam pela cabeça...
Quando minha avó morreu eu tinha 20 anos. Nos últimos dias de vida dela , minha mãe já estava meio ausente de tudo. Após a morte, entrou num processo de profunda depressão. Foram tentados tratamentos em Parnaíba e em Campo Maior, onde Júlio César, meu irmão mais velho morava, mas de nada adiantaram. Depois ela foi para Fortaleza e lá encontrou um médico e um tratamento que funcionou muito bem tirando-a totalmente do processo depressivo. Mas isso tudo levou vários meses acontecendo, quase um ano de buscas pela saúde e pela capacidade de viver a vida dentro de uma situação de normalidade... Acho que foram tantos anos dentro de uma situação surreal, que viver a vida simplesmente não fazia muito sentido e até o desespero da loucura de minha avó fazia falta! Analisando agora, acredito que todos nós vivemos um pouco a nossa própria loucura individual e coletiva naqueles anos todos de acompanhar o processo de doença de minha avó!...
Minha mãe sempre foi bastante autoritária e eu tenho muito de rebelde, portanto, os anos de adolescência não foram nada fáceis. Depois que casei, vim morar em Salvador e nossas relações se tornaram mais amenas. Mas , de uma forma ou de outra, ela estava sempre me cobrando coisas que eu não queria fazer. E entrávamos em atrito. Acho que somos muito parecidas e ela não sabia disso, portanto queria que eu aceitasse pacificamente ser, de certa forma, comandada por ela. E isso não dava certo. Enquanto ela tentou essa estratégia nossas relações , embora amorosas, eram bastante desgastantes e difíceis...

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VIVENDO, CONVIVENDO E APRENDENDO

Estar em contato com outras pessoas é sempre instigante e enriquecedor. Nos dias atuais as distâncias entre as pessoas crescem. O tempo para viver as relações de amizade e até mesmo familiares fica cada vez mais curto. Dessas dificuldades surge a necessidade de uma nova forma de relacionar-se , a busca de um meio mais simples e efetivo para atenuar a falta do papo colocado em dia no banco da pracinha, o encontro descompromissado para tomar um chop no fim do trabalho, a ida ao cinema e tantos outros programas simples que foram se complicando com as dificuldades do trânsito, com o crescimento da violência urbana e tantas outras dificuldades que enfrentamos diariamente.
Daí, o bem do encontro virtual. Pode não ser o ideal, mas é o real, o possível.E é pensando nisso que tentarei estabelecer um maior contato com as pessoas que são importantes para mim através deste Blog. São todos bem vindos e os recebo com muito carinho neste espaço onde tentaremos diminuir as distâncias e fazer o tempo correr um pouco mais lentamente...
INÊS VITORIA Salvador, 11 de julho/2009

LIVROS QUE LI RECENTEMENTE E AMEI!!!

  • -A SOMA DOS DIAS
  • Memórias Autora: Isabel Allende
  • - LEILA DINIZ
  • Biografia Autor: Joaquim ferreira dos santos
  • -TUDO QUE EU QUERIA TE DIZER
  • Crônicas Autora : Marta Medeiros